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Mostrando postagens de abril, 2009

Arder na madrugada.

Ou as coisas ardem ou não me meto nelas. Foi uma frase que surgiu de meus dedos enquanto digitava os argumentos de uma discussão interminável (como todas) via msn às 4h30 da manhã. Esse tem sido meu horário de maior atividade, desde que comecei a trocar os dias pelas noites. Atividade de um modo geral: emocional, de raciocínio, intelecutal, física. A madrugada é um momento do dia caracterizado pela intensidade. Parece que o véu da noite exerce um peso sobre as almas, obrigando-as a viverem aquelas horas de forma intensa e inteira, entregando-se profundamente às experiências noturnas. A noite alta é esmagadora e plenificante. A temperatura da noite, o silêncio que permite ouvir outros sons - mesmo que deformado nas grandes cidades - suas cores e cheiros, são infinitamente estimulantes, sugerem profundidade, sugerem contato com tudo o que é o outro lado. Com tudo aquilo que não faz parte do dia, da luz, da movimentação agitada do cotidiano. Assim sendo, a alta madrugada torna-se o melhor

Perder-se no eco do vazio.

O fenômeno Susan Boyle . Recebi o link para este vídeo e deletei-o consecutivamente trocentas vezes até recebê-lo de alguém a quem dedico atenção privilegiada às coisas que me envia; portanto, "assisti-o-o". Quadro: reality show competitivo com alto índice de futilidade (redundância), um júri que encarna diferentes personagens, impondo (fantasiosamente) uma atmosfera de medo e apreensão aos concorrentes, platéia ensandecida lotada de pessoas que não tem mais o que fazer de suas vidas a não ser observar a vida alheia de forma zoofílica (sim, sou cruel em alguns julgamentos). Soma-se a isso a concorrente: mulher vinda de uma cidade do interior, com um tipo físico e endumentária completamente fora dos padrões estéticos sugeridos por este tipo de audiência/programação, e ainda, de idade avançada (???). Resultado: o óbvio. Ela começa sendo ridicularizada, mas quando inicia àquilo a que se propôs ao estar ali (no caso, cantar), deixa a todos boquiabertos, estupefatos. Sai vitoriosa

Existência diferencial.

Diz-se de quem procura, que este acha. Sou a prova viva. Quanto mais procuro, mais encontro material diverso para fundamentar todo o absurdismo que aqui despejo. Acabo de encontrar, por exemplo, uma filosofia dessas que andam por aí desde finados "1800 e encarnação passada", que apregoa - muito que resumidamente aqui, pois que não quero ser achincalhada de não saber discorrer fidedignamente sobre tal, coisa que não o sei mesmo - algo sobre mônadas, quais sejam: a partes que se coadunam para formar os todos. Por exemplo, os átomos. Mas a novidade - em 1895 - é a proposta de que as mônadas (sério, vão pesquisar na wikipédia e afins pra entender isso aqui direito) são, ao invés das últimas instâncias a que se pode algo reduzir, pasmem!, compostas. Infinitamente compostas de diferenças. Significando, para este filósofo e os que nele acreditam, que qualquer coisa no mundo poderia ser decomposta em infinitésimas diferenças. (Que meu amigo me perdoe se isto aqui estiver muito plagií

A perplexidade da dor.

Estive a ler sobre a dor por esses dias, dor, de um modo geral, dor física mesmo, com ou sem metáforas, e, qual não foi meu espanto ao deparar-me com estatísticas que asseguravam que "a dor afeta pelo menos 30 % dos indivíduos durante algum momento da sua vida e, em 10 a 40% deles, tem duração superior a um dia." Trinta por cento??? Pelo menos 30%?? Essa foi uma informação que, no mínimo, deveria fazer com que eu revisse certas convicções minhas. Sim, porque, eu estava convicta de que a dor afetasse TODOS os indivíduos em algum momento de suas vidas. Como não sou dada a alterar minhas convicções a partir do discurso alheio com tanta facilidade, continuo acreditando que TODOS os indivíduos são afetados por alguma dor, pelo menos uma vez na vida. Qualquer dor. Nascer dói. E nada me convence do contrário: a primeira experiência do mundo concreto é dor. Infelizmente. Somos recebidos nesta realidade com a triste constatação: é, vai doer... Mas, além dessa, seria possível conceber

É necessário dividir porque não se cabe em si mesma. Cena final.

Tela em branco. Tela em branco. Tela em branco. Parece que está vazia, que já disse tudo, que já se expôs demais. Tem um sentimento gozado de vergonha, ela que escreveu despudoradamente, e agora se defronta com sua intimidade mais velada ali, palavra por palavra. Tem a sensação de que não existe. Começa a deixar de existir. Após tanto tempo sem se reconhecer no olhar do outro, a imagem de si mesma esvai-se na solidão das madrugadas. Correr riscos é agora a única coisa que faz sentido. É o silêncio da solidão das madrugadas que a mantêm acordada. A luz do dia a faz dormir e sonhar. Começa a deixar de existir. O que seria a existência senão a afirmação de outrem de que ela realmente existe? A imagem de si mesma esvai-se e quem é que pode afirmar que ela é, quando não há ninguém olhando? Não há ninguém olhando e ela não sabe mais ao certo se está ali. Se é ali. E se não for? E se deixar de existir. Correr riscos é agora a única coisa que faz sentido. Na folha tela em branco corre-se um ri

É necessário dividir porque não se cabe em si mesma. Cena 3.

Ela está sozinha. Parece que bebeu. Acaba de chegar na sua casa escura, e parece que bebeu. É como se as coisas não estivessem no lugar. Mas, oras! as coisas nunca estão no lugar. O Gato, e somente ele a recebe. Mas parece que ela bebeu e nem o Gato dá muita importância, porque ela bebeu, então, ela não será mais ela, nem tão cedo. Ela será aquela. Aquela que fala das coisas como se fossem verdade. Aquela que sente seu corpo como se pudesse fazer algo quanto a isso. Aquela que soluça. Aquela que está enfim nua. E não está mais com medo de todas as impressões que tomarão seu corpo, porque ela bebeu. E ela tem certeza que Baco nunca a deixaria perder-se em definitivo. Ela está sozinha, mas seu pensamento está cheio de um alguém. Um alguém que não saberia, talvez, o que fazer com esta bacante sozinha. Seu pensamento está cheio de um alguém, mas seu pensamento é uma realidade concreta, porque ela bebeu. "É então que toco este alguém." E a solidão da noite, afora um Gato, a confun

É necessário dividir porque não se cabe em si mesma. Cena 2.

São 14h08. No sonho, ela andava contra o vento na rua onde mora, acompanhada por pessoas de um passado distante no tempo e no espaço. Fazia frio, motivo de alegria, mas ela não entendia porque algumas pessoas calçavam luvas. Andavam com muito esforço, que iam contra o vento. Algumas pessoas caminhavam bem mais à frente, e ela se perguntava "para quê tanta pressa? Não preciso andar correndo assim." No sonho, elas andavam contra o vento e faziam muito esforço, muito esforço mesmo para andar contra o vento. Vinham de um casamento - quem havia casado? - e iriam encontrar mais pessoas distantes no tempo e no espaço. Pessoas que não sabiam direito onde estavam, e ela devia orientá-los, afinal, este era o lugar dela. E ela não iria andar tão rápido. Para quê tanta pressa? São 14h08. Ela havia se prometido levantar às 14h00, completando exatas dez horas de sono. Mas mais uma vez ela havia-se deixado levar pelo onirismo de sua outra realidade. Sempre dormira e sempre sonhara. E, se fo