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Mostrando postagens de agosto, 2009

Minha vida na poesia - 1

"(...)Leve o diabo a vida e a gente a tê-la Nem leio o livro à minha cabeceira. Enjoa-me o Oriente. É uma esteira Que a gente enrola e deixa de ser bela. Caio no ópio por força. Lá querer Que eu leve a limpo uma vida destas Não se pode exigir. Almas honestas Com horas pra dormir e pra comer, Que uma raio as parta! E isto afinal é inveja. Porque estes nervos são a minha morte. Não haver um navio que me transporte Para onde eu nada queira que não o veja! Ora! Eu cansava-me do mesmo modo. Qu'ria outro ópio mais forte para ir de ali Para sonhos que dessem cabo de mim E pregassem comigo nalgum lodo. Febre! Se isto que tenho não é febre, Não sei como é que se tem febre e sente. O fato essencial é que estou doente. Está corrida, amigos, esta lebre. Veio a noite. Tocou já a primeira Corneta, para vestir para o jantar. Vida social por cima! Isso! E marchar Até que a gente saia p'la coleira! Porque isso acaba mal e há de haver (Olá!) sangue e um revólver lá pro fim Deste desassosseg

Minha vida no teatro.

Abre-se pesada cortina vermelha. Palco intimista, luzes azuladas. Uma mesa de madeira ao centro, deitada de costas sobre ela, com papéis e um lap top, fumo um cigarro. Entra um homem, seu rosto sempre na sombra. Retira-me da situação em que estou e interage comigo até não poder mais, até que, para cima dele, eu tome toda a cena, e ele desapareça de vez na escuridão da cochia. Luz alaranjanda, apenas um foco na boca de cena. Arrasto-me até ele. Diálogo interminável comigo mesma. Monólogo. Expressão corporal intensa que acompanha os 32 sentimentos diferentes que expresso no texto. Audio ao fundo, sinfonia, bem baixinho. Monólogo; sinfonia crescendo. Monólogo; sinfonia aumentando de volume. Monólogo fading out, sinfonia cada vez mais alta, não se escuta mais o que digo. Estirada ao centro do palco, luzes de fundo, 5 atores/atrizes entram em cena arrastando-se no chão como baratas, vêm por todos os lados ao meu encontro, até parecermos uma massa disforme que movimenta-se em uníssono ao rés

Minha vida no cinema.

Câmera em primeira pessoa, é o olhar da personagem. Pra onde ela olha, enquadra-se a imagem em tons ora acinzentados, ora fúscia ou grená, ora em technicolor. Violino ao fundo. Violoncelo. Diálogos perdidos dos passantes, confusos, fragmentários. Cenas em movimento. Poderia estar dentro de um ônibus, a camêra sacolejaria olhando pela janela um dia chuvoso. Nada mais feliz que um dia chuvoso e frio. Rabecas mais rápidas. Luzes da cidade à noite. Flashes de mãos que seguram copos, que abraçam cinturas, que mexem nos cabelos. Fumaça de cigarro. Piano. Diálogo entre partes de dois corpos enudescendo-se. Ombro. Pescoço. Costas. Cabelos. Um olho bem aberto, que se fecha e aperta-se. Manhã chuvosa. Um clássico orquestrado. Olhar fixo num transeunte qualquer, acompanhando sua passagem pela rua. Um pé atrás do outro, All Star surrado. Cenas em fast foward, passagem do dia para o entardecer. Um chorinho em cochabamba. Mesa de bar. Par de pernas sob uma saia rodada que se cruzam sugerindo um joel

Tempo e temperatura.

Aqueles instantes no sofá foram tamanhos que nem vi tempo onde só havia temperatura. Poderiam - deveriam - ter durado a eternidade. Cada segundo seria então toda uma estação, e o meu tempo se marcaria na sua temperatura. Outono dos seus braços, verão da sua boca, primavera dos seus olhos, e, quando chegou o inverno, você afastou-se, chegou o inverno quando você se afastou. Procurei em vão ver tempo onde só havia temperatura, na sala fria demais porque seu calor era só seu, pensei estar delirando. O cheiro do seu calor foi se entranhando em minha pele e eu poderia ver o tempo parar onde sentia sua temperatura. Como uma criança abandonada, irritei o íntimo da minha alma e com ele derrubei todos seus livros. Baguncei o seu tapete, joguei para o alto suas almofadas e todo o tempo só o que havia era temperatura, inflamada e quente. Eu estava ali, ao alcance do seu braço, para a hora em que você quisesse voltar. Te olhava me olhar e não sei bem o que via, a vista turva de desejo. Te olhava m