São 14h08. No sonho, ela andava contra o vento na rua onde mora, acompanhada por pessoas de um passado distante no tempo e no espaço. Fazia frio, motivo de alegria, mas ela não entendia porque algumas pessoas calçavam luvas. Andavam com muito esforço, que iam contra o vento. Algumas pessoas caminhavam bem mais à frente, e ela se perguntava "para quê tanta pressa? Não preciso andar correndo assim."
No sonho, elas andavam contra o vento e faziam muito esforço, muito esforço mesmo para andar contra o vento. Vinham de um casamento - quem havia casado? - e iriam encontrar mais pessoas distantes no tempo e no espaço. Pessoas que não sabiam direito onde estavam, e ela devia orientá-los, afinal, este era o lugar dela. E ela não iria andar tão rápido. Para quê tanta pressa?
São 14h08. Ela havia se prometido levantar às 14h00, completando exatas dez horas de sono. Mas mais uma vez ela havia-se deixado levar pelo onirismo de sua outra realidade. Sempre dormira e sempre sonhara. E, se fosse possível, não mais acordaria. Sua outra realidade sempre fora tão real como a realidade... (E agora?!! Qual seria a realidade verdadeira? Ela será hipócrita em hierarquizar realidades diante da precisão que ambas oferecem a ela. Como definir qual seria a realidade primeira?)
São 14h08 e ela levanta-se. Por que? O que há a fazer? Andar pela casa, comer uma maçã, ver emails, esperar. No sonho, ela estava feliz porque havia chegado o inverno.
Ela senta no vermelho da sala mal iluminada esperando a nova estação. Verá um filme? Não importa.
Já não importa porque ela acaba de descobrir que esta é sua vida. Sua vida. E ela poderia fazer o que quisesse agora. O que quisesse. Sua sala. Sua lâmpada. Seu computador. Sua história. No sonho, ela está feliz porque é inverno. Sua estação.
Já não são mais 14h08, e ela olha pela janela e chove. Chove chuva real, como chuva de sonho, com cheiro de chuva, toque de chuva, gosto de chuva. E ela está dentro de sua própria vida. As imagens que ela vê são só dela e se ela se permitisse ficar, ficaria para sempre perdida na outra realidade onde sente que realmente ali há sentido. Mas a realidade dos homens, onde ela está sozinha, precisa também de sua vida.
Ela olha pela janela e chove, e isso a faz feliz. Ela está sozinha, e acaba de descobrir que esta é sua vida. De um lado e de outro da fronteira entre as duas realidades, esta é sua vida. No sonho, ela tem certeza de que é real. Na realidade, já não há tanta certeza. Sozinha no inescapável da sua vida.
Fim do segudo ato.
No sonho, elas andavam contra o vento e faziam muito esforço, muito esforço mesmo para andar contra o vento. Vinham de um casamento - quem havia casado? - e iriam encontrar mais pessoas distantes no tempo e no espaço. Pessoas que não sabiam direito onde estavam, e ela devia orientá-los, afinal, este era o lugar dela. E ela não iria andar tão rápido. Para quê tanta pressa?
São 14h08. Ela havia se prometido levantar às 14h00, completando exatas dez horas de sono. Mas mais uma vez ela havia-se deixado levar pelo onirismo de sua outra realidade. Sempre dormira e sempre sonhara. E, se fosse possível, não mais acordaria. Sua outra realidade sempre fora tão real como a realidade... (E agora?!! Qual seria a realidade verdadeira? Ela será hipócrita em hierarquizar realidades diante da precisão que ambas oferecem a ela. Como definir qual seria a realidade primeira?)
São 14h08 e ela levanta-se. Por que? O que há a fazer? Andar pela casa, comer uma maçã, ver emails, esperar. No sonho, ela estava feliz porque havia chegado o inverno.
Ela senta no vermelho da sala mal iluminada esperando a nova estação. Verá um filme? Não importa.
Já não importa porque ela acaba de descobrir que esta é sua vida. Sua vida. E ela poderia fazer o que quisesse agora. O que quisesse. Sua sala. Sua lâmpada. Seu computador. Sua história. No sonho, ela está feliz porque é inverno. Sua estação.
Já não são mais 14h08, e ela olha pela janela e chove. Chove chuva real, como chuva de sonho, com cheiro de chuva, toque de chuva, gosto de chuva. E ela está dentro de sua própria vida. As imagens que ela vê são só dela e se ela se permitisse ficar, ficaria para sempre perdida na outra realidade onde sente que realmente ali há sentido. Mas a realidade dos homens, onde ela está sozinha, precisa também de sua vida.
Ela olha pela janela e chove, e isso a faz feliz. Ela está sozinha, e acaba de descobrir que esta é sua vida. De um lado e de outro da fronteira entre as duas realidades, esta é sua vida. No sonho, ela tem certeza de que é real. Na realidade, já não há tanta certeza. Sozinha no inescapável da sua vida.
Fim do segudo ato.
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Estranhe.