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Mostrando postagens de abril, 2010

Tudo o que tenho por um pouco de paz de espírito, John!

Eu queria apenas ser, sem sabê-lo. Sem saber o como, quando e o porque de ser como quando e porque. Ser sem ciência, no máximo, uma leve intuição de por onde ir. Eu queria dizer, sem pensá-lo. Sem saber o porque do que digo nem adivinhar o porque da resposta que recebo. A inconsciência da ignorância do substrato de tudo. A consciência de si não é a ciência do subjacente. Posso saber de mim mesma, sem entender-me, nem a ti. Sei que sou, e basta. Não me interessa o que move meus passos, interessa que ando. Queria andar sem me notar, e, caso batesse numa parede, a culpa seria dela por estar ali, e não minha. O que sei de mim, é minha responsabilidade. Gostaria de lavar as minhas mãos. E que o resultado das coisas fosse apenas uma prerrogativa do suprapessoal, sem vínculo algum com minhas escolhas. E que as palavras fluíssem de meus dedos incessantemente. Penso, logo sou e sofro. Sofro a reflexão de mim mesma sobre o que sou. Se flutuasse na plenitude paradisíaca do não saber, o mundo

Noite de sábado.

Regina acordou com o despertador do relógio tocando, muito suavemente, bem baixinho. Na verdade já havia acordado quarenta minutos antes, Alberto, que dormia ao seu lado no tapete da sala, falava animadamente ao telefone. Ele voltara a dormir. Ela mais ou menos, e agora acordava de verdade, porque estava na hora. Depois de passarem o sábado inteiro juntos, bebendo e comendo e falando, de dormirem sob o mesmo teto, teriam ainda um domingo muito agitado. Regina já via ante seus olhos as porções de pastel e as garrafas de cerveja que teriam, logo logo, por café da manhã. Espreguiçou-se com um sorriso, cheia de pelos do tapete no vestido, virou-se na direção do amigo. Alberto estava sentado de costas para ela, no chão com as pernas cruzadas, imóvel. "Bom dia!", ela disse feliz. Ele não a respondeu. Chamou-o, com a intimidade dos amigos, de mal educado e sentou-se, chegando perto de onde estava. Alberto, imóvel, tinha a expressão atordoada, os lábios brancos e os olhos vidrados.