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Ao meu amor.

Em respeito ao meu amor, jamais deixarei de amá-lo - ou ao menos por hora. Porque meu amor não é descartável. Não é algo que mude ou se jogue fora, simplesmente junto com o objeto que se vai. Meu amor é muita coisa. É força, é profundidade, é aceleração. Ele se dá e preenche. E não é assim, porque o objeto se afasta, que, como poeira, vai ao vento deixar de ser amor. Ou espalhar-se. Ou mesmo polvilhar quintal alheio.
Não, devo muito ao meu amor para achar que posso desvencilhar-me dele assim, súbito, de uma vez por todas. Ele é maior do que eu. Se se ama algo mesmo, não é porque este algo não está ao alcance que qualquer outra coisa pode substituí-lo... Lutar contra isso me parece inútil. E se outra coisa pudesse simplesmente entrar no lugar, então talvez não fosse amor. Pelo menos não o meu amor. Esse que é tamanho.
A maioria já deve ter ouvido falar que o poetinha pensava que nada melhor para esquecer um grande amor do que um outro, novo grande amor. Talvez não seja bem isso. Talvez seja quase isso. Talvez seja que um belo dia, você consegue que seu amor ame pra outro lado, mas isso não é escolha sua. O amor é das poucas muitas coisas que o ser humano, apesar de todos os esforços empreendidos em sua história, nunca conseguiu mensurar, decifrar, compreender, descrever, analisar, personificar, compactar, envasar, dissecar. Coitado de quem patologiza o amor. Coitada de mim, que já o fiz! Mas meu amor é tão maior, que não se vinga! Ao invés, não me abandona. Poderia ele deixar-me, eu eu pensaria que nem existiu. E, ora, que tola teria sido, se nada disso tivesse sido amor.
Mas, não. Cá está ele, ao meu lado, todas as horas. Meu amor está aí, e amo ao longe. Não amo porque algo é. Amo simplesmente por amar, porque o amor não tem critérios. O amor é um fim em si mesmo.

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