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Ode à Vida.

Morte pra que te quero! E quero-te, a grande perda! O fim de tudo o que posso conceber como tudo. De todas as mortes nesta vida, és tu a única certa. Morro, logo sou. Há quem saiba o que tu guardas? O que tuas cortinas desvelam? Espero-te calma e serena sem pensar em ti, encontrando-te a cada esquina. Acompanha-me, pois que morro a cada dia. E a Vida, tua antagonista será? Ou serás tu apenas o resultado final daquilo que não sabemos a que viemos? Quero-te para mim e para todos aqueles que são meus, posto que o infinito é inominável angústia. Quero-te na hora em que me quiseres, nem um segundo a mais ou a menos. Quero-te farta, potente, absoluta, e não tua face negada, vestida de preconceitos.
Se, Morte, tu és o desfecho da Vida, quero-te como esta, que me preenche por todos os poros na certeza de que existo. Existirei tão mais quando chegardes, e existirei até o último momento de existir, porque és tu que me dás a vida que me levas. E ma dás plena, e é por isto que vivo. Vivo sabendo da Morte, para morrer conhecedora de tudo o que vivi. Prometo-te assim, porque és quem tu és, viver apenas aquilo que for meu, sem tirar nem por, viver por toda a Vida e tudo o que ela me quiser dar. Prometo-te assim, viver.
Espero-te, Morte, de braços e olhos bem abertos, porque tudo o que me destes, será novamente teu quando eu cessar. E tudo é maravilha, porque cá estou eu a viver a Vida que me dás. Toma-me em teus braços e andaremos de mãos dadas por todo o caminho, e és tu quem me guiará, pois só tu sabes aonde ir. E irei contigo aonde for, e manterei registros desta viagem, como um filme registra a cada segundo, o segundo que completa o todo que eu vivo.
Vida-Morte, certeza amiga, és tudo o que tenho, onde serei mais do que jamais fui e sempre serei, no fim, toda história que há em mim.

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