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As good as it gets.

Ele está fazendo o melhor que pode. Você está fazendo o melhor que pode. Eu estou fazendo o melhor que posso. Sempre estamos. Frente às nossas neuroses. Acreditar que o ser humano sempre faz o melhor de si. Não o melhor que pode alcançar. É o melhor que pode oferecer naquele momento. Esse é o seu melhor. Seu melhor não é suficiente pra mim. Mas quem sou eu pra julgá-lo? É o melhor que pode fazer. E que direito me outorgo de dizer que seu melhor não é bom? Qual o critério? De onde parte a medida? Serei eu a medida de todas as coisas?
Meu melhor não dá conta do que é necessário para ser avalizado por você. Mas o ponto de arquimedes sou eu mesmo. É o mais do que eu sou. Relatividade cultural distorcida aplicada ao micorcosmo que somos.
E se eu perco o controle do que faço, ainda assim, é o que mais posso dar de mim no momento. Porque nem sempre tenho o controle. Porque perder o controle, neste momento, é tudo o que consigo fazer de mim. Meu erro é o melhor que posso dar agora. Seu grandissíssimo erro foi o melhor que você pode fazer da sua vida naquele momento. E se estamos assim, foi o melhor que pudemos fazer de nós. E que não foi suficiente.
Acreditar que o ser humano sempre faz o melhor de si. É o que vejo todos os dias nos olhos das pessoas ao meu redor. São seu melhor. Na paz ou no sofrimento.
E posso te culpar por não ser melhor que isso? Posso me culpar por perder o controle?
Só eu me faço sentir assim. Mas isso é o melhor de mim. Agora.

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