Tudo bem? Não.
Quantos esperam ouvir esta resposta quando cumprimentam alguém? Por que esta é uma resposta possível. Não, não estou bem. Não, as coisas não vão bem, e não, não está tudo bem comigo. Mas não é o que esperam, pois "tudo bem?" não é uma pergunta sincera. É apenas uma expressão idiomática usada para abrir comunicações informais. Quem pergunta não quer realmente saber se vc está bem ou se sofre. Quer apenas introduzir um assunto de interesse de ambos - ou não.
E mais: quem pergunta, por mais que se importe, não quer mesmo ouvir que nada vai bem como resposta. É proibido não ser feliz. Se eu pergunto se está tudo bem, a resposta deve ser "sim, tudo vai bem comigo! e com você aí? Vai bem também? Tão bem como vai comigo? Tão bem ou melhor ainda?".
Ora, deixem-me em paz! Deixem a tristeza em paz! Não, as pessoas não estão bem sempre e sim, tem horas em que tudo está uma grande merda. Mas por inúmeros motivos, ninguém sabe lidar com isso. Temos todos que ser felizes, com Colgate, café da manhã doriana e roupas mais brancas e livres de bactérias. Que violência! Que violência à minha pessoa negar-me o direito a sentimentos legítimos que despontam de dentro de mim, que são meus e de ninguém mais, que dizem de mim e de mais ninguém. E não há nada pior que possam me dizer do que "sai dessa!", "tudo passa", "você vai ficar bem...".
Eu quero falar do meu sofrimento agora! Eu quero falar do que sinto! Quero ser ouvida em toda a plenitude da dor que me trespassa, sem que fiquem negando-na todo o tempo! Não, não deixo isso pra lá e não passo por cima! Faça o favor de reconhecer a legitimidade do que estou dizendo ao invés de me tirar o direito de dizê-lo, porque você não lida bem com isso. Hoje é proibido sofrer. É proibido sentir dor, é proibido morrer. Porque ninguém quer ver no sofrimento do outro suas próprias fraquezas. Seus próprios buracos. Sua própria dor. Aquele que sofre é um mal social, porque na nossa sociedade não se pode mais sofrer. Já inventamos o prozac. Aquele que chora é um inconveniente, porque lembra ao demais que não, Protex não te deixa livre de 100% dos microorganismos malvados nem impede que seu marido te deixe por outra. E nós não somos mais educados desde a infância para saber disso. Pelo contrário, nos deixam em um universo de unicórnios e fadas cintilantes, nos protegem da dor, do tombo, da sujeira, da morte. Por grande parte do tempo da nossa infância, nos negam a verdade da vida. E então, mais tarde, eu não sei sofrer. Eu não sei perder. Eu não sei me frustrar. E ao ver tudo isso no outro, eu rejeito, "você vai ficar bem!", eu rejeito o que em mim próprio é fraqueza e incompletude.
O sofrimento precisa apenas de compreensão. Pois que a próxima vez que você vir alguém que ama afundado em tristeza, dê conta de sua própria angústia, e apenas escute. Não o inunde de soluções, pois o sofrimento não percorre os mesmos caminhos que a razão. Apenas escute. Permita a quem você ama saber que seus sentimentos são legítimos. Porque, por mais que você negue, o que você rejeita no outro, nada mais é do que a si mesmo.
E agora, repitam todos comigo: não, eu não estou feliz, ok?
Quantos esperam ouvir esta resposta quando cumprimentam alguém? Por que esta é uma resposta possível. Não, não estou bem. Não, as coisas não vão bem, e não, não está tudo bem comigo. Mas não é o que esperam, pois "tudo bem?" não é uma pergunta sincera. É apenas uma expressão idiomática usada para abrir comunicações informais. Quem pergunta não quer realmente saber se vc está bem ou se sofre. Quer apenas introduzir um assunto de interesse de ambos - ou não.
E mais: quem pergunta, por mais que se importe, não quer mesmo ouvir que nada vai bem como resposta. É proibido não ser feliz. Se eu pergunto se está tudo bem, a resposta deve ser "sim, tudo vai bem comigo! e com você aí? Vai bem também? Tão bem como vai comigo? Tão bem ou melhor ainda?".
Ora, deixem-me em paz! Deixem a tristeza em paz! Não, as pessoas não estão bem sempre e sim, tem horas em que tudo está uma grande merda. Mas por inúmeros motivos, ninguém sabe lidar com isso. Temos todos que ser felizes, com Colgate, café da manhã doriana e roupas mais brancas e livres de bactérias. Que violência! Que violência à minha pessoa negar-me o direito a sentimentos legítimos que despontam de dentro de mim, que são meus e de ninguém mais, que dizem de mim e de mais ninguém. E não há nada pior que possam me dizer do que "sai dessa!", "tudo passa", "você vai ficar bem...".
Eu quero falar do meu sofrimento agora! Eu quero falar do que sinto! Quero ser ouvida em toda a plenitude da dor que me trespassa, sem que fiquem negando-na todo o tempo! Não, não deixo isso pra lá e não passo por cima! Faça o favor de reconhecer a legitimidade do que estou dizendo ao invés de me tirar o direito de dizê-lo, porque você não lida bem com isso. Hoje é proibido sofrer. É proibido sentir dor, é proibido morrer. Porque ninguém quer ver no sofrimento do outro suas próprias fraquezas. Seus próprios buracos. Sua própria dor. Aquele que sofre é um mal social, porque na nossa sociedade não se pode mais sofrer. Já inventamos o prozac. Aquele que chora é um inconveniente, porque lembra ao demais que não, Protex não te deixa livre de 100% dos microorganismos malvados nem impede que seu marido te deixe por outra. E nós não somos mais educados desde a infância para saber disso. Pelo contrário, nos deixam em um universo de unicórnios e fadas cintilantes, nos protegem da dor, do tombo, da sujeira, da morte. Por grande parte do tempo da nossa infância, nos negam a verdade da vida. E então, mais tarde, eu não sei sofrer. Eu não sei perder. Eu não sei me frustrar. E ao ver tudo isso no outro, eu rejeito, "você vai ficar bem!", eu rejeito o que em mim próprio é fraqueza e incompletude.
O sofrimento precisa apenas de compreensão. Pois que a próxima vez que você vir alguém que ama afundado em tristeza, dê conta de sua própria angústia, e apenas escute. Não o inunde de soluções, pois o sofrimento não percorre os mesmos caminhos que a razão. Apenas escute. Permita a quem você ama saber que seus sentimentos são legítimos. Porque, por mais que você negue, o que você rejeita no outro, nada mais é do que a si mesmo.
E agora, repitam todos comigo: não, eu não estou feliz, ok?
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Estranhe.