Pular para o conteúdo principal

Peripatética.

(É tudo tão hipotético que nem mesmo sei se aconteceu.)
Sabe aquelas palavras que você não sabe o que significam, mas cria um significado próprio para elas? Pois assim é comigo e com a peripatética. Peri, é prefixo de "ao redor", na periferia, na borda, excluso do centro. Patética é aquilo que já sabemos: é patético. Pois então, peripatética(o) seria aquilo - na minha definição, claro - que beira o patético, de tão ridículo.
Algumas coisas na vida são assim: nos fazem sentir peripatéticas. Quando falamos e não somos ouvidas, quando tentamos dizer, e não somos entendidas, quando expomos a verdade e não somos consideradas. Podem me perguntar: "porque você está usando o feminino plural?" E se a resposta não for óbvia aos olhos de quem lê, já respondo, porque sou mulher, e porque garanto que não há amiga minha que não há de concordar com o que digo agora.
Não, não meu sobrenome não é Pinkola Estés, nem corro com lobos, apesar de gostar muito desses bichinhos. Não estou propondo uma mitologia do feminino achacado pelos homens. Nada disso. Tenho certeza de que há loucos para todos os gêneros, números e graus no mundo. Estou apenas, e mais uma vez usando da minha parca criatividade para projetar conteúdos meus no blog.
Na verdade, queria voltar ao meu conceito de peripatética. Queria demonstrar como o não uso do dicionário nos permite criar identificações projetivas com as palavras. É como quem acha que subjugar é um julgamento inferior. Mas essa palavra eu já sabia do Aurélio. Mas peripatética não. Foi um prato cheio pra neologizar... na verdade, neosignificar, já que a palavra em si já existia.
Palavras são sinais. O que significa dizer que são símbolos com significados estáticos, definidos, e relativamente universais. Mas quando eu dou minha própria significação a uma palavra, e me relaciono com ela como um conteúdo particular de significado pessoal relativo, devolvo (será?) à este signo o status de símbolo, mesmo que como uma brincadeira analfabética, mesmo que só pra mim.
De qualquer forma, isso tudo é só pra dizer que me deito esta noite me sentindo peripatética.
E que peripatética não significa nada disso que eu disse acima.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

É necessário dividir porque não se cabe em si mesma. Cena 1

Toda casa está apagada; há uma panela besuntada de azeite sobre o fogo alto da primeira boca direita do fogão. O filme está pausado. Toda a casa está apagada. A luz da cozinha lança penumbra sobre a sala e o banheiro. Ela já não cabe em si mesma e não sabe ao certo o que fazer com isso. Sai dois passos além da porta da cozinha, e, segurando o saco com seus últimos milhos, gira noventa graus para se deparar com a sala. Toda a casa está apagada. O que é isso que ela vê? A panela superaquecida fumega sobre a primeira boca direita do fogão, e ela não entende o que vê. Não não entende de um estado confusional, mas de uma certa perplexidade com a realidade. É isso, ela está perplexa com o que parece ser real. Na sala penumbrada os tons de vermelho sobressaem e ela olha vagarosamente da direita para a esquerda, como se quisesse ver, enquanto o filme continua em pausa e a panela fumega prevendo um incêndio que não acontecerá. Ela retoma o curso do fazer. Os milhos caem fazendo estardalhaço sob

Estrangeirismo

Estrangeirismo. Extranjero. Étranger. Étrange. Strange. Stranger. Estranho. Platão, pai da filosofia como nós a conhecemos desta metade da laranja, vê no estranhamento a origem da filosofia. O Homem começa a filosofar porque sente este estranho estranhamento do mundo. Eros é quem filosofa, esse daimon do intermédio que está entre a sabedoria e a falta de recursos. Eros é impulsionamento, e se não lhe houvesse a falta, não lhe haveria o movimento. Por outro lado, temos a já enxovalhada frase que afirma que "o Homem é um ser gregário". Vivemos no outro. Nos constituímos no jogo de identificação e diferenciação com o outro. No olhar do outro. No toque. É preciso estranhar. Mas é preciso pertencer também. A solidão é um tema arquetípico dos mais densos, e pertence ao mundo do estranhamento, da não pertença, do estrangeirismo em todo lugar. Quantas pessoas devem sentir-se assim em todo mundo, estrangeiras em qualquer lugar? "Eu não sou daqui, marinheiro só", deve chamar-

Não feliz.

Tudo bem? Não. Quantos esperam ouvir esta resposta quando cumprimentam alguém? Por que esta é uma resposta possível. Não, não estou bem. Não, as coisas não vão bem, e não, não está tudo bem comigo. Mas não é o que esperam, pois "tudo bem?" não é uma pergunta sincera. É apenas uma expressão idiomática usada para abrir comunicações informais. Quem pergunta não quer realmente saber se vc está bem ou se sofre. Quer apenas introduzir um assunto de interesse de ambos - ou não. E mais: quem pergunta, por mais que se importe, não quer mesmo ouvir que nada vai bem como resposta. É proibido não ser feliz. Se eu pergunto se está tudo bem, a resposta deve ser "sim, tudo vai bem comigo! e com você aí? Vai bem também? Tão bem como vai comigo? Tão bem ou melhor ainda?". Ora, deixem-me em paz! Deixem a tristeza em paz! Não, as pessoas não estão bem sempre e sim, tem horas em que tudo está uma grande merda. Mas por inúmeros motivos, ninguém sabe lidar com isso. Temos todos que se