- Mas doutor, não gostei!
- Como assim?
- Do que o senhor fez!
- Mas você está curada!
- Exatamente!
- Não gostou de estar curada?
- Não. Quero a recidiva da minha patologia!
- Não entendo!
- Com todos os sintomas de volta!
- Mas porque? Não se sente melhor assim?
- Defina "melhor"?
- Ora, foram-se as dores, a febre, a tensão muscular. Seus olhos não lacrimejam mais, sua garganta desobstruiu, está respirando melhor! Aquela sensação de aperto no peito e nó no estômago também passou e seu coração não corre mais risco de enfarte. Não tens mais dor de cabeça. Os pés não estão inchados e suas pernas se movimentam livremente agora. Sua saúde está restaurada, minha jovem!
- Mas e o buraco?
- Que buraco?
- O buraco que fica agora! O que eu faço sem sentir isso tudo? Não sinto mais meus pés, minha cabeça, meu estômago, meu coração, não sinto mais nada! Como sei que ainda os tenho se não os sinto?
- Mas eu te garanto, estão aí e funcionando plenamente.
- Sua garantia não me basta. Eu não doo mais, não sei se existo.
- Minha filha, é confuso o que está dizendo. Em muitos anos de prática médica nunca ouvi dizerem...
- Pois é doutor, o senhor não sabe o que faz. Devia ter me perguntado antes.
- Perguntado o que?
- Me explicado! Com certeza, se soubesse que me curar seria assim, não deixaria que tivesse me tratado.
- Mas achei que era isso o que você queria.
- Vocês médicos e suas suposições. Achou mal. Eu tinha o direito de saber que seu tratamento iria me roubar o sentido de ser.
- O sentido de ser? De ser doente?
- Não. Sentir. Eu sentia antes. Agora não sinto mais nada.
- Sentia dores.
- Mas sentia. E agora, o que me resta?
- Saúde.
- Para que?
- Para aproveitar a vida!
- Como vou aproveitar uma vida que não sinto? Veja, nem sei ao menos se tenho um cérebro, não o sinto dentro de minha cabeça! Como posso raciocinar assim?
- Minha jovem, acho que você está muito confusa. Logo se acostuma. É assim que se é saudável, é o que todos buscam.
- Anestesiados? Não, obrigada. Não quero ser saudável se isso significa não me sentir. Quero de volta saber do meu corpo, onde dói!
- Não posso te fazer doente de volta!
- Como não? O senhor curou, agora trate de descurar!
- É contra meus princípios, o juramento que fiz!
- Não me importa! Eu não pedi isso! Quando o procurei, achei que podia me ajudar. Não piorar as coisas.
- Não sei o que fazer agora. Na verdade, nem ao menos entendo direito o que você quer...
- Quero o sentir, o sentido, o sentimento. Que me devolva tudo isso.
- Não sei se posso. Eu havia te curado...
- Faça-o agora!
- Se te beijar...
- Talvez resolva...
- Mas adoecerei também... eu acho...
- Não me importa. Beije-me!
(...)
- Sinto as dores retornarem lentamente. Os sintomas se aproximando. Com o passar dos dias piorarei.
- Era isto que você queria?
- Era, era sim.
- Mais alguma coisa?
- Que você me ligue amanhã.
- Que eu te procure?
- Sim, isto.
- Amanhã ligarei... amanhã.
- Como assim?
- Do que o senhor fez!
- Mas você está curada!
- Exatamente!
- Não gostou de estar curada?
- Não. Quero a recidiva da minha patologia!
- Não entendo!
- Com todos os sintomas de volta!
- Mas porque? Não se sente melhor assim?
- Defina "melhor"?
- Ora, foram-se as dores, a febre, a tensão muscular. Seus olhos não lacrimejam mais, sua garganta desobstruiu, está respirando melhor! Aquela sensação de aperto no peito e nó no estômago também passou e seu coração não corre mais risco de enfarte. Não tens mais dor de cabeça. Os pés não estão inchados e suas pernas se movimentam livremente agora. Sua saúde está restaurada, minha jovem!
- Mas e o buraco?
- Que buraco?
- O buraco que fica agora! O que eu faço sem sentir isso tudo? Não sinto mais meus pés, minha cabeça, meu estômago, meu coração, não sinto mais nada! Como sei que ainda os tenho se não os sinto?
- Mas eu te garanto, estão aí e funcionando plenamente.
- Sua garantia não me basta. Eu não doo mais, não sei se existo.
- Minha filha, é confuso o que está dizendo. Em muitos anos de prática médica nunca ouvi dizerem...
- Pois é doutor, o senhor não sabe o que faz. Devia ter me perguntado antes.
- Perguntado o que?
- Me explicado! Com certeza, se soubesse que me curar seria assim, não deixaria que tivesse me tratado.
- Mas achei que era isso o que você queria.
- Vocês médicos e suas suposições. Achou mal. Eu tinha o direito de saber que seu tratamento iria me roubar o sentido de ser.
- O sentido de ser? De ser doente?
- Não. Sentir. Eu sentia antes. Agora não sinto mais nada.
- Sentia dores.
- Mas sentia. E agora, o que me resta?
- Saúde.
- Para que?
- Para aproveitar a vida!
- Como vou aproveitar uma vida que não sinto? Veja, nem sei ao menos se tenho um cérebro, não o sinto dentro de minha cabeça! Como posso raciocinar assim?
- Minha jovem, acho que você está muito confusa. Logo se acostuma. É assim que se é saudável, é o que todos buscam.
- Anestesiados? Não, obrigada. Não quero ser saudável se isso significa não me sentir. Quero de volta saber do meu corpo, onde dói!
- Não posso te fazer doente de volta!
- Como não? O senhor curou, agora trate de descurar!
- É contra meus princípios, o juramento que fiz!
- Não me importa! Eu não pedi isso! Quando o procurei, achei que podia me ajudar. Não piorar as coisas.
- Não sei o que fazer agora. Na verdade, nem ao menos entendo direito o que você quer...
- Quero o sentir, o sentido, o sentimento. Que me devolva tudo isso.
- Não sei se posso. Eu havia te curado...
- Faça-o agora!
- Se te beijar...
- Talvez resolva...
- Mas adoecerei também... eu acho...
- Não me importa. Beije-me!
(...)
- Sinto as dores retornarem lentamente. Os sintomas se aproximando. Com o passar dos dias piorarei.
- Era isto que você queria?
- Era, era sim.
- Mais alguma coisa?
- Que você me ligue amanhã.
- Que eu te procure?
- Sim, isto.
- Amanhã ligarei... amanhã.
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Estranhe.