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Suspensão.

Eu queria que algo acontecesse. Que algo aparecesse. Que algo me surpreendesse. Que algo se impusesse. Que algo surgisse. Que algo me arrastasse.
Que algo é esse?
Suspensão. Como na química, quando uma substância está em suspensão, em álcool a tantos por cento, está imersa naquilo, em suspensão; suspende-se a substância que ela é para poder tornar-se a substância em potencial que virá a ser. Mas não o sabe. Ela não sabe que substância tornar-se-á. Estou em suspensão. Porque não sei o vir-a-ser. O devir. Que devenha.
O exercício de as coisas não estarem sob controle. Não que estejam descontroladas. Mas que estão não sob o seu controle. Estão sob controle outro que não se controla daqui, sabe-se deus de onde então. E que difícil! O exercício de aguardar, já que não é daqui que se controla o tempo, o algo que não chega nunca o dia em que me arrebate, meu deus!
Pra quem anda rápido demais, esperar colher maduro pode ser muito penoso. Mas se torna necessário, depois de tantas frutas verdosas... A madurescência da maturação, o que são dias, frente ao resto de seus dias?
É como se eu não tivesse assunto, como se o texto só tivesse início, sem meio ou fim. Tudo por causa da suspensão. E o desafio de se escrever felicidades? Eu houvera começado um texto assim: "Vamos fazer um novo experimento. Vamos tentar escrever na alegria. Como expressar em palavras o mundo interno em momentos de plenitude? (desenvolver no blog)..." Péssimo texto, não? Pois bem, é isso, não é possível escrever felicidades. E esse meia boca que discorro por agora, é apenas por causa da suspensão. Em álcool a tantos por cento. Só tem início, sem meio, nem fim.
Daqui de onde estou, mil perguntas sem respostas. Mas a pergunta é uma só: Eu?

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