Pular para o conteúdo principal

De que.

De que adianta uma escada se não subo. De que adianta uma televisão se não assisto. De que adiantam lençóis se não me cubro. De que adianta silêncio se não ouço. De que adiantam livros e quadros se não enxergo. De que adianta a voz se não falo. De que adianta o colo se não páro. De que adianta o vento se não resfrio. De que adianta www se não conecto. De que adianta o plug se eu não tomada. De que adianta o vinho se não bebo. De que adianta mesa se não almoço. De que adianta dinheiro se não gasto. De que adianta companhia se não conto.
De que adiantam claves se não toco. De que adianta outlook se eu não express. De que adianta editar se eu não publico. De que adianta a foto se não reconheço. De que adianta a receita se não cozinho. De que adianta espera se não amo. De qua adiantam mãos se não encosto. De que adianta a boneca se não brinco. De que adianta subir se não olho pra baixo. De que adiantam dedos se não aponto. De que adiantam teclas se não escrevo.
De que adianta tela se não pinto. De que adianta um prego se não martelo. De que adiantam os pés se não levanto. De que adianta andar se não chego. De que adianta remédio se não doo. De que adiantar olhar se me escondo. De que adianta colar se não fixo. De que adianta ser se não faço. De que adianta fazer se não sou. De que adianta maquiar se não embelezo. De que adianta suicidar se não morro. De que adianta morrer se não vivo. De que adiantar tentar se não consigo. De que adianta ouvir se não ajudo. De que adianta plantar se não colho.
De que adianta ter se não uso. De que adiantam as pedras se não esculpo. De que adianta isto se eu não aquilo. De que adianta conserto se não quebro. De que adiantam garfo e faca se não alimento. De que adianta a pimenta se não ardo. De que adianta pensar se não pratico.
Pra que tudo isso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Shiva, Vishnu e Brahma, Nietzsche, Heidegger e Sartre.

A existência é perfeita. Nem mais nem menos. Não se deve questionar o que se lhe acontece, porque é a perfeição. A existência é perfeita e você está exatamente onde deveria estar nesse momento. O que lhe acontece é exatamente da forma como deveria. Todos os milhares de seres que atravessam seu caminho ao longo do dia, deveriam estar precisamente ali naquele momento, não antes, não depois, não em outro caminho, mas no seu, naquele instante único. A unicidade é a precisão da existência. Porque só existe isso agora. E o que existe é minuciosamente programado para vir a ser, nesse único instante do existir. O existir não é linear. É apenas um ponto,o ponto do instante. Não existe antes nem depois, apenas isso, o instante que há, é onde eu existo. Eu não fui nem serei. Tampouco sou. Eu estou sendo. O momento do devir. E eu devenho a cada instante que é um só. O que há é apenas o agora. O que foi e o que será não têm consistência. É vago, etéreo, onírico. O único real é o do momento presen...

Eu prefiro a madrugada.

Eu prefiro a madrugada. O silêncio. O distanciamento. Eu prefiro a madrugada, quando a maior parte não está aqui. Quando o tempo parece congelar. Quando só eu existo. Eu prefiro a madrugada, quando os pensamentos soam mais alto. Eu prefiro a madrugada, quando eu brilho no escuro. Eu prefiro a madrugada, onde todos os gatos são pardos. Onde eu posso me ouvir melhor. Eu prefiro a madrugada, porque não se precisa mentir nem inventar. Prefiro a madrugada porque é mais sincera. Prefiro as madrugadas insones, onde se sonha mais alto. Prefiro as madrugadas sóbrias, quando se vê mais ao longe. Eu prefiro a madrugada. Que é mais lenta. Que não nos atropela. Eu prefiro as madrugadas e seus ritmos sem pressa. O ritmo do agora. Prefiro lembrar o que me disse numa madrugada. Prefiro as madrugadas solitárias. E eu prefiro a madrugada com você aqui.

É necessário dividir porque não se cabe em si mesma. Cena 1

Toda casa está apagada; há uma panela besuntada de azeite sobre o fogo alto da primeira boca direita do fogão. O filme está pausado. Toda a casa está apagada. A luz da cozinha lança penumbra sobre a sala e o banheiro. Ela já não cabe em si mesma e não sabe ao certo o que fazer com isso. Sai dois passos além da porta da cozinha, e, segurando o saco com seus últimos milhos, gira noventa graus para se deparar com a sala. Toda a casa está apagada. O que é isso que ela vê? A panela superaquecida fumega sobre a primeira boca direita do fogão, e ela não entende o que vê. Não não entende de um estado confusional, mas de uma certa perplexidade com a realidade. É isso, ela está perplexa com o que parece ser real. Na sala penumbrada os tons de vermelho sobressaem e ela olha vagarosamente da direita para a esquerda, como se quisesse ver, enquanto o filme continua em pausa e a panela fumega prevendo um incêndio que não acontecerá. Ela retoma o curso do fazer. Os milhos caem fazendo estardalhaço sob...