- Não, definitivamente eu não lido bem com isso!
- Pois devia! Não entendo! Não há racionalmente razão alguma para você sentir desta forma...
- Pois, é, né? Mas já é velho conhecido nosso o dizer: o coração tem razões que a própria razão desconhece! Não há saída! Por mais que eu estranhe esse sentimento em mim, é inundante! Chega como um córrego, que aos poucos se avoluma, e basta uma frase, um pensamento, uma simples constatação, para qu eu o reviva uma e outra vez em toda sua caudalosidade.
- Se você parar para pensar, levas a vida que sempre sonhara!
- Levo a vida... Ô sentimento ambíguo! Ao mesmo tempo em que sempre ostentei o estandarte das minhas escolhas, sempre a mim acompanhou a sensação de uma designação maior, que me levaria ao meu caminho inexoravelmente... Levo a vida que me leva. A diferença para os dias de hoje, é que nesse idílio a certeza de que o inexorável levaria à realização plena era simplesmente incontestável...
- E agora?
- Agora?... Agora teorias da conspiração começam a assolar minhas certezas, o inexorável me traiu.. Fui seduzida pelas promessas de beleza e grandiosidade, e agora... Agora temo que o destino seja fatalista e, sentado ao fim do caminho, me aguarde com aquilo que sempre temi, minha própria e pessoal Caixa de Pandora.
- Você deve estar exagerando. São suas fantasias de adolescente caindo por terra. Veja ao seu redor: você tem o que alega não ter, você vive o que alega não viver; onde anda você enquanto sua vida vai passando e você não vê?
- O que tenho paradoxalmente não me pertence. Sei que o que quero é uma fantasia falaciosa de uma sociedade neurótica. Sei que estou cedendo a pressões estereotípicas. Sempre estou querendo mais do que o que estão me oferecendo. E penso que é tudo oferecido aos outros e não a mim... Eu sei, eu sei, sintoma coletivo....
- Não interessa muito de onde vem o sintoma. Importa o que você pretende fazer com ele...
- Penso em desistir...
- Desistir? E fazer o que?
- Antigamente, eu tinha tanta segurança em dizer que prefiro quebrar a cara do que deixar de fazer algo, nunca fugir da raia, sempre arriscar... Ainda repito isso, mas não sei se tenho mais tanta segurança. Pra onde vou? O que vai acontecer? Sinto como o vento nas maçãs do rosto a passagem do tempo que se apressa, a cada dia mais...
- E se desistir, o que você terá?
- Esse é o meu medo! Desistir e não ter mais nem o pouco do qual eu quero mais! Ter nada! E quem sabe, deixar de querer... Isso sim, seria o zero absoluto da minha alma!
- Seria sua cicuta...
- Quero mais! Há tanta vida em minhas veias, tanta energia para fazer ventania, tanta vontade de movimento!!!! Mas parece que todos ao redor estão cristalizados... Em maior ou menor grau, todos paralizam diante dos medos...
- E você não?
- Oras!!! Às favas com os medos!! Não tenho medo de nada! Tenho medo de ter medo!
- ...
- Claro que tenho muitos medos, mas minha grande luta sempre foi enfrentá-los. Tenho medo da minha Caixa de Pandora. Tenho medo do que me foi reservado; e se não houver nada o que eu possa fazer? E se for assim que há de ser? Ou pior: e se eu estiver fazendo tudo errado e agora não houver mais volta nem conserto?
- Se um dia você se lembrar que sempre existem outros caminhos a serem escolhidos?
- Eu sei disso toda vez. E toda vez eu me orgulho porque minhas escolhas são minhas e só minhas, mas ao mesmo tempo me penalizo por que seria tão mais simples escolher as escolhas dos outros, tão menos questionável...
- Acho que esse é um fardo com o qual você terá que lidar por toda a sua vida: ser quem você é.
- Ser quem eu sou já me causou um bocado de problemas...
- Ainda pensa em desistir?
- Sim. Ainda mais por esses dias... Mas sei que essa vontade de desistir é uma falácia para atingir o objetivo oposto.. Isso é ruim.
- Você sabe que em breve o quadro se tranformará, como é com tudo; sua perspectiva será outra em pouco tempo...
- Sei. Mas vivo agora.
- Então viva com toda a ventania. Grite se for preciso. Diga o que há a ser dito.
- Minhas palavras me expõem, são transparentes como cristal. Tenho medo da vulnerabilidade do dizê-las...
- Pois essa será a sua redenção.
- Pois devia! Não entendo! Não há racionalmente razão alguma para você sentir desta forma...
- Pois, é, né? Mas já é velho conhecido nosso o dizer: o coração tem razões que a própria razão desconhece! Não há saída! Por mais que eu estranhe esse sentimento em mim, é inundante! Chega como um córrego, que aos poucos se avoluma, e basta uma frase, um pensamento, uma simples constatação, para qu eu o reviva uma e outra vez em toda sua caudalosidade.
- Se você parar para pensar, levas a vida que sempre sonhara!
- Levo a vida... Ô sentimento ambíguo! Ao mesmo tempo em que sempre ostentei o estandarte das minhas escolhas, sempre a mim acompanhou a sensação de uma designação maior, que me levaria ao meu caminho inexoravelmente... Levo a vida que me leva. A diferença para os dias de hoje, é que nesse idílio a certeza de que o inexorável levaria à realização plena era simplesmente incontestável...
- E agora?
- Agora?... Agora teorias da conspiração começam a assolar minhas certezas, o inexorável me traiu.. Fui seduzida pelas promessas de beleza e grandiosidade, e agora... Agora temo que o destino seja fatalista e, sentado ao fim do caminho, me aguarde com aquilo que sempre temi, minha própria e pessoal Caixa de Pandora.
- Você deve estar exagerando. São suas fantasias de adolescente caindo por terra. Veja ao seu redor: você tem o que alega não ter, você vive o que alega não viver; onde anda você enquanto sua vida vai passando e você não vê?
- O que tenho paradoxalmente não me pertence. Sei que o que quero é uma fantasia falaciosa de uma sociedade neurótica. Sei que estou cedendo a pressões estereotípicas. Sempre estou querendo mais do que o que estão me oferecendo. E penso que é tudo oferecido aos outros e não a mim... Eu sei, eu sei, sintoma coletivo....
- Não interessa muito de onde vem o sintoma. Importa o que você pretende fazer com ele...
- Penso em desistir...
- Desistir? E fazer o que?
- Antigamente, eu tinha tanta segurança em dizer que prefiro quebrar a cara do que deixar de fazer algo, nunca fugir da raia, sempre arriscar... Ainda repito isso, mas não sei se tenho mais tanta segurança. Pra onde vou? O que vai acontecer? Sinto como o vento nas maçãs do rosto a passagem do tempo que se apressa, a cada dia mais...
- E se desistir, o que você terá?
- Esse é o meu medo! Desistir e não ter mais nem o pouco do qual eu quero mais! Ter nada! E quem sabe, deixar de querer... Isso sim, seria o zero absoluto da minha alma!
- Seria sua cicuta...
- Quero mais! Há tanta vida em minhas veias, tanta energia para fazer ventania, tanta vontade de movimento!!!! Mas parece que todos ao redor estão cristalizados... Em maior ou menor grau, todos paralizam diante dos medos...
- E você não?
- Oras!!! Às favas com os medos!! Não tenho medo de nada! Tenho medo de ter medo!
- ...
- Claro que tenho muitos medos, mas minha grande luta sempre foi enfrentá-los. Tenho medo da minha Caixa de Pandora. Tenho medo do que me foi reservado; e se não houver nada o que eu possa fazer? E se for assim que há de ser? Ou pior: e se eu estiver fazendo tudo errado e agora não houver mais volta nem conserto?
- Se um dia você se lembrar que sempre existem outros caminhos a serem escolhidos?
- Eu sei disso toda vez. E toda vez eu me orgulho porque minhas escolhas são minhas e só minhas, mas ao mesmo tempo me penalizo por que seria tão mais simples escolher as escolhas dos outros, tão menos questionável...
- Acho que esse é um fardo com o qual você terá que lidar por toda a sua vida: ser quem você é.
- Ser quem eu sou já me causou um bocado de problemas...
- Ainda pensa em desistir?
- Sim. Ainda mais por esses dias... Mas sei que essa vontade de desistir é uma falácia para atingir o objetivo oposto.. Isso é ruim.
- Você sabe que em breve o quadro se tranformará, como é com tudo; sua perspectiva será outra em pouco tempo...
- Sei. Mas vivo agora.
- Então viva com toda a ventania. Grite se for preciso. Diga o que há a ser dito.
- Minhas palavras me expõem, são transparentes como cristal. Tenho medo da vulnerabilidade do dizê-las...
- Pois essa será a sua redenção.
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Estranhe.