Não é estranha a força que tem a nossa necessidade de dividir nossa alma com o outro? Sem isso, nos sentimos incompletos, despersonalizados, eu diria. Aí está o fundamento do amor: dividir aquela imensidão que somos, com outro que nos ajude a carregar toda a nossa existência. *** Esse é meu tema, meu tema é a existência. Toda essa vida em festa que transborda nos dias de carnaval só me faz pensar em existência, na solidez da cidade, no estar ali, na antropologia do que vejo. Já de início, a estrutura da cidade - não de alguma cidade especificamente, mas o conceito de cidade, que é uma das coisas mais bem boladas da humanidade - nos convida incessantemente a estranhá-la e naturalizá-la, numa roda em eterno movimento de estrangeirismo e pertença. O estar ali pode nos tomar momentaneamente numa onda de contaminação psíquica, e por algum tempo nos sentiremos parte da coletividade. Mas logo o chão da cidade, um grupo de foliões e sua alegria tresloucada, as fantasias, um prédio antigo, logo...
Espanto. Estranhamento. Perplexidade. Estrangeirismo.