Tinha chegado em casa bêbada. Uma vaga lembrança que pedira comida no boteco da esquina, logo confirmada pelo interfone. Era mais uma noite em vão. Mais um sono sem sonhos que se lembrasse e que pudessem lhe dar uma dica. Se fiava muito no que tinham a dizer, os sonhos. Dormiu no tapete da sala. Quem nunca teve essa urgência de dormir tão desenfreada de não conseguir chegar na cama? Morava sozinha a tempo suficiente para parecer desde sempre. E a cada dia crescia a impressão de que assim moraria eternamente. Morava com o Gato. Mas o Gato sabia morar de um jeito que era como morar absolutamente sozinha muitas vezes. Não é de todo ruim, amava sua casa. Não que parecesse, pois pouco a frequentava, mas sim, amava. Tinha obrigações para com ela que não conseguia cumprir, mas a casa nunca reclamara. Da mesma forma o Gato. Amor incondicional. Sozinha, tinha tempo suficiente para olhar ao seu redor e tentar entender o que era sua vida. O que acontecia e qual era sua responsabilidade nisso, s...
Espanto. Estranhamento. Perplexidade. Estrangeirismo.