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Mostrando postagens de 2011

Shiva, Vishnu e Brahma, Nietzsche, Heidegger e Sartre.

A existência é perfeita. Nem mais nem menos. Não se deve questionar o que se lhe acontece, porque é a perfeição. A existência é perfeita e você está exatamente onde deveria estar nesse momento. O que lhe acontece é exatamente da forma como deveria. Todos os milhares de seres que atravessam seu caminho ao longo do dia, deveriam estar precisamente ali naquele momento, não antes, não depois, não em outro caminho, mas no seu, naquele instante único. A unicidade é a precisão da existência. Porque só existe isso agora. E o que existe é minuciosamente programado para vir a ser, nesse único instante do existir. O existir não é linear. É apenas um ponto,o ponto do instante. Não existe antes nem depois, apenas isso, o instante que há, é onde eu existo. Eu não fui nem serei. Tampouco sou. Eu estou sendo. O momento do devir. E eu devenho a cada instante que é um só. O que há é apenas o agora. O que foi e o que será não têm consistência. É vago, etéreo, onírico. O único real é o do momento presen

Para que eu procure entender.

Sexta-feira, uma hora da manhã. Um dia sem trabalho. Sem compromissos formais. Um dia para dormir até quatro da tarde. O primeiro de um longo feriado emendado. Em casa. A despeito dos convites e do rock'n roll acontecendo lá fora. Pergunta-se, porquê em casa? É a idade. Não. É o desinteresse pelas situações mais que conhecidas. Estar na festa. A música. Todas aquelas pessoas tentando parecer felizes. Todas aquelas pessoas tentando parecer mais interessantes que as outras. Todas aquelas pessoas tentando parecer. E a certeza de que estar lá significa necessariamente vestir a surrada carapuça das situações como essa. Tentar parecer feliz e interessante. Relembrar todas as teorias dos livros de auto-ajuda que dizem sobre dar a chance ao destino de colocar as pessoas certas no seu caminho, e que por isso deve-se estar, aparecer, participar. Sorrir. Dançar. Essas músicas incríveis. Em casa sexta-feira à noite, começo de feriadão. Pelo grandissíssimo desinteresse no mesmo novo de sempre

Eu prefiro a madrugada.

Eu prefiro a madrugada. O silêncio. O distanciamento. Eu prefiro a madrugada, quando a maior parte não está aqui. Quando o tempo parece congelar. Quando só eu existo. Eu prefiro a madrugada, quando os pensamentos soam mais alto. Eu prefiro a madrugada, quando eu brilho no escuro. Eu prefiro a madrugada, onde todos os gatos são pardos. Onde eu posso me ouvir melhor. Eu prefiro a madrugada, porque não se precisa mentir nem inventar. Prefiro a madrugada porque é mais sincera. Prefiro as madrugadas insones, onde se sonha mais alto. Prefiro as madrugadas sóbrias, quando se vê mais ao longe. Eu prefiro a madrugada. Que é mais lenta. Que não nos atropela. Eu prefiro as madrugadas e seus ritmos sem pressa. O ritmo do agora. Prefiro lembrar o que me disse numa madrugada. Prefiro as madrugadas solitárias. E eu prefiro a madrugada com você aqui.

Ao meu amor.

Em respeito ao meu amor, jamais deixarei de amá-lo - ou ao menos por hora. Porque meu amor não é descartável. Não é algo que mude ou se jogue fora, simplesmente junto com o objeto que se vai. Meu amor é muita coisa. É força, é profundidade, é aceleração. Ele se dá e preenche. E não é assim, porque o objeto se afasta, que, como poeira, vai ao vento deixar de ser amor. Ou espalhar-se. Ou mesmo polvilhar quintal alheio. Não, devo muito ao meu amor para achar que posso desvencilhar-me dele assim, súbito, de uma vez por todas. Ele é maior do que eu. Se se ama algo mesmo, não é porque este algo não está ao alcance que qualquer outra coisa pode substituí-lo... Lutar contra isso me parece inútil. E se outra coisa pudesse simplesmente entrar no lugar, então talvez não fosse amor. Pelo menos não o meu amor. Esse que é tamanho. A maioria já deve ter ouvido falar que o poetinha pensava que nada melhor para esquecer um grande amor do que um outro, novo grande amor. Talvez não seja bem isso. Talve

Ode à Vida.

Morte pra que te quero! E quero-te, a grande perda! O fim de tudo o que posso conceber como tudo. De todas as mortes nesta vida, és tu a única certa. Morro, logo sou. Há quem saiba o que tu guardas? O que tuas cortinas desvelam? Espero-te calma e serena sem pensar em ti, encontrando-te a cada esquina. Acompanha-me, pois que morro a cada dia. E a Vida, tua antagonista será? Ou serás tu apenas o resultado final daquilo que não sabemos a que viemos? Quero-te para mim e para todos aqueles que são meus, posto que o infinito é inominável angústia. Quero-te na hora em que me quiseres, nem um segundo a mais ou a menos. Quero-te farta, potente, absoluta, e não tua face negada, vestida de preconceitos. Se, Morte, tu és o desfecho da Vida, quero-te como esta, que me preenche por todos os poros na certeza de que existo. Existirei tão mais quando chegardes, e existirei até o último momento de existir, porque és tu que me dás a vida que me levas. E ma dás plena, e é por isto que vivo. Vivo sabendo

Soneteando meio torto.

Singrando em minha pele Teu corpo vai, sem hora E o tempo de outrora Não faz que se revele. Se não mais vivo aquele Penar que de outra vez Corroía minha tez Teu olhar que assim sele Compromisso de não ter às vistas de quem olha Compromisso algum de ser Pois que noite que o valha Se vem deste teu prazer Vale mil tu'a migalha.

Aforismos

Tranformação. Já mudei tanto na vida, e ainda assim, existe um eixo central que reconhece infinitamente ser eu mesma. Feminino. Eu não seria outra coisa senão o feminino. Idiossincrasias. Não há nada mais sedutor no outro do que suas idiossincrasias. Escolha. Ser infinitamente quem se é tem me trazido muitos problemas. Descoberta. Hoje eu descobri que sou uma pessoa vazia e superficial. Autoimagem . Na maioria das vezes, o que vemos de nós é através daquilo que enxergamos no olhar dos outros. Existir . As coisas são exatamente aquilo que são. Nem mais, nem menos. Alma . Minha alma é um esplendor que carrego sobre os ombros; é tão mais exuberante quanto mais pesado a cada carnaval. Criatividade . Minha produção só é fértil em tempos de tempestade existencial. A calmaria da felicidade é improdutiva... Prisão. Hoje, tive claustrofobia ao ar livre. Efeito. É tudo uma questão de droga e dose. Sustentação. Ver as coisas através das nossas lentes distorcidas é muito

As good as it gets.

Ele está fazendo o melhor que pode. Você está fazendo o melhor que pode. Eu estou fazendo o melhor que posso. Sempre estamos. Frente às nossas neuroses. Acreditar que o ser humano sempre faz o melhor de si. Não o melhor que pode alcançar. É o melhor que pode oferecer naquele momento. Esse é o seu melhor. Seu melhor não é suficiente pra mim. Mas quem sou eu pra julgá-lo? É o melhor que pode fazer. E que direito me outorgo de dizer que seu melhor não é bom? Qual o critério? De onde parte a medida? Serei eu a medida de todas as coisas? Meu melhor não dá conta do que é necessário para ser avalizado por você. Mas o ponto de arquimedes sou eu mesmo. É o mais do que eu sou. Relatividade cultural distorcida aplicada ao micorcosmo que somos. E se eu perco o controle do que faço, ainda assim, é o que mais posso dar de mim no momento. Porque nem sempre tenho o controle. Porque perder o controle, neste momento, é tudo o que consigo fazer de mim. Meu erro é o melhor que posso dar agora. Seu grand

Não é você, sou eu.

Óbvio. Gozado constatar que geralmente creditam conotação de inverdade a esta frase. Como desculpa esfarrapada. Nunca é você. E sempre serei eu. O outro não tem responsabilidade por aquilo que sentimos, menos ainda sobre como sentimos. Influência, talvez. Responsabilidade, nunca. Se não suporto seu sorriso amarelo, sou eu. Se não aceito seus hábitos noturnos, sou eu. Se não gosto da forma como fala com sua mãe, sou eu. Se não acho a menor graça nas suas piadas, tudo sou eu. Eu sou aquela que não sinto o que você gostaria que eu sentisse por você. O que eu sinto, vem de mim, do que eu vejo em você, e não de uma relação intrínseca ao que você relamente é. Porque eu nunca saberei o que você realmente é, a coisa em si. Só posso saber do que sinto quando vejo o que vejo naquilo que percedo em você, a coisa para mim. Se eu não quero estar com você, desculpe, não é você, sou eu. Não, isso não é uma grande e gorda mentira. É exatamente dessa forma, sou eu quem não te suporta. E isso não é cul

Mil desculpas.

- Desculpa, mas eu simplesmente não consigo abrir mão da minha vida para viver a vida do outro. Sinto muito. Mesmo. Muita gente consegue. Mulheres, na maioria das vezes. Vejo isso diariamente. Gente que se entrega à vida do outro. Isso lhes é exigido, como uma prerrogativa. Mas não são todas, todas que ainda vivem nesse universo provinciano, e eu não vou viver assim. Me perdoe, mas não pra mim. O problema é que muitas vezes o preço é a solidão. Você vai me desculpar, mas isso que você me demanda é demais. Não posso dar-me a você desta forma. E se todos vocês forem ser iguais assim, o preço será não dar a nenhum de vocês nada. Nem um pouco. Minha maior prova de amor é dar-me completamente a você. E sua maior prova de amor é devolver-me a mim, para que juntos, possamos ser dois. Não me leve a mal. É apenas que eu não sou dessas. Dessas que se deixam de lado por você. Dessas que vivem a sua vida, e depois, quando você se vai, nada resta. Eu sei que você é desses. Desses que chegam com tan

Não feliz.

Tudo bem? Não. Quantos esperam ouvir esta resposta quando cumprimentam alguém? Por que esta é uma resposta possível. Não, não estou bem. Não, as coisas não vão bem, e não, não está tudo bem comigo. Mas não é o que esperam, pois "tudo bem?" não é uma pergunta sincera. É apenas uma expressão idiomática usada para abrir comunicações informais. Quem pergunta não quer realmente saber se vc está bem ou se sofre. Quer apenas introduzir um assunto de interesse de ambos - ou não. E mais: quem pergunta, por mais que se importe, não quer mesmo ouvir que nada vai bem como resposta. É proibido não ser feliz. Se eu pergunto se está tudo bem, a resposta deve ser "sim, tudo vai bem comigo! e com você aí? Vai bem também? Tão bem como vai comigo? Tão bem ou melhor ainda?". Ora, deixem-me em paz! Deixem a tristeza em paz! Não, as pessoas não estão bem sempre e sim, tem horas em que tudo está uma grande merda. Mas por inúmeros motivos, ninguém sabe lidar com isso. Temos todos que se

Algumas coisas.

Muitas vezes na vida, mais do que gostaríamos, algumas coisas simplesmente não dão certo. O bolo sola. O carro enguiça. A goteira inunda. O passo falseia. A luz falta. O hd apaga. O pé tropeça. O copo entorna. A carne queima. O remédio não faz efeito. O vôo atrasa. A cerveja acaba. O paraquedas não abre. O sinal não fecha. O ônibus não chega. A calça não abotoa. O vestido não cabe. O relógio pára. O outro não vem. O chefe não libera. A amiga não vai. A internet não funciona. O trem não te espera. O convidado não aparece. A doença não se cura. A pessoa não liga. O empregador não te contrata. A comida não mata a fome. A água não escorre. A casa desabriga. A TV queima. O ventilador não refresca. O ovo estraga. A tentativa falha. O sapato aperta. A vista não enxerga. O coração enfarta. O vidro quebra. A porta não tranca. O outro não atende. O pano rasga. O teto roda. O fígado incha. A maquiagem borra. O dinheiro some. A conta chega. O dono cobra. O cachorro não late. O barco não atraca. A

Assim me tornei meu pior pesadelo.

Você entrou na minha vida. Bem por ali, vê? Fez. Aconteceu. Gato. Sapato. E eu ia te seguindo. Deixei disso, daquilo. Eu era tudo o que você não queria! Assim, assado, te ensinando o que você não queria aprender, aprimorando o que você não queria que eu fosse. Tudo o que você nunca imaginou! E você era tudo o que eu não precisava. Você via nas outras o que eu não era, e eu via em você o que achava que poderia vir a ser. Eu mudava e você se adequava. Eu aceitava e você disfarçava. E foi assim que comecei a ver. Tudo o que eu não era. E aquilo que eu não conseguia. E o que nunca poderia ser. Aos poucos, deixei de ver o que eu poderia fazer de você e comecei a perceber o que nunca seria de mim. Podia senti-la emergindo sob a epiderme. Ela, eu mesma que não era assim. Ela tinha outros olhos, que viam outras coisas de outras formas. E ao olhar pra você, via tudo o que eu não queria, e só isso. Eram os olhos dela vendo o que não podia ser pior, me cegando para todo outro possível você. E ao

Retorno.

Dêem-me um motivo para me arrumar. Quero usar preto, com saltos altos, maquiar em torno dos olhos e tingir o cabelo de vermelho. Há muito que não me arrumo e tenho andado muito clara. Tão burguesa, calça jeans e rímel incolor. Dêem-me motivo para me vestir. Destacar os ombros, ruborizar as maçãs do rosto e ter os lábios carmim. Convidem-me para todas as festas de gala e me esqueçam pros churrascos de domingo. Guardarei todas as havaianas no fundo do baú. Quero que meus passos ecoem quando circular pelo salão acompanhada de um copo de destilado. Não me ofereçam fermentados frescos. Chegarei de táxi e não a pé. Entrarei sozinha, e não acompanhada. Mas estejam lá. Dêem-me motivo para me arrumar, e acreditar que sou aquilo que pareço. Pintarei as unhas de vermelho. Trarei comigo nada mais que um maço de cigarros. Dançarei com os quadris e os cabelos. Ao fim da noite, terei arranhado o verniz dos sapatos e dormirei sem retirar a maquiagem. O vestido ficará com cheiro de madrugada, e não ver