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Mostrando postagens de 2010

Incomudância.

Há uma imagem que criei e uso muito em meu trabalho quando quero me referir à relação da mudança com o incômodo. Costumo dizer que não há mudança sem incômodo, e eis a imagem: só se levanta de um assento e senta-se em outro se está incomodado com o lugar onde se senta. Se me sinto confortável, aquecido, bem posicionado, num lugar agradável, não me mudo. Pode-se objetar que algumas mudanças nos são impostas, o que é verdade. Mas replico que ainda assim, o incômodo é, mesmo na situação de uma mudança que se impôs, o motor desta, pois que houve o desagrado da circunstância que nos fez mudar. Exemplificando com a imagem anterior, poderia até estar muito confortável em meu assento, até que alguém venha e o reivindique para si, fazendo-me levantar. Uma mudança imposta, sim, mas gerada pelo incômodo da situação de ter de se haver com a disputa pelo local onde se está sentado. Incomodo, logo mudo. Pois bem, tendo atestado o incômodo como motor de mudança da forma acima, passemos a maiores refl

Olho Mágico.

O palco vira espetáculo. O espectador vira espetáculo. Quem olha quem olha é o espectador de quem observa, através do olho mágico. O movimento através do olho mágico não chega ao espectador que observa o movimento de quem vê o movimento distorcido através do olho mágico. São três os estágios; o de quem está lá, o de quem olha quem está lá, e o de quem olha quem olha quem está lá. E quem olha, olha o que? Os que olham quem está lá, percebem-nos como uma realidade pouco concreta, quase onírica. Os que olham quem olha quem está lá, não sabem em absoluto o que se passa, apenas observam os observadores observarem, como um desdobramento da caverna platônica. E o que será que observam eles? Do outro lado, os que estão lá criam o fio que costura toda a relação, quer os observadores a conheçam, quer não. Mas ela está lá. Esta história está lá. eles estão lá. Ou não. E foi só isso o que se viu. Música. Voz.

Impressões de uma entrevista analítica.

"E então, você pode me ajudar?" Deveria, visto que teoricamente você estaria me pagando para isso. Mas o que vem a ser "ajudar"? Na verdade, o buraco é mais embaixo. O que é exatamente esta profissão que se propõe a ouvir as mazelas do mundo e fazer algo com elas? Fazer o que com elas? As pessoas sofrem, meu deus!, como sofre o ser humano! Ou, como diria brilhantemente um querido parente, como sofre quem padece! Escarafunche a vida de qualquer um próximo a você, o porteiro, a moça que senta à mesa da recepção do seu escritório, aquele gordinho que toma o mesmo elevador que você todas as manhãs, sua tia, você mesmo. Inevitavelmente vai achar uma história de por no chinelo as novelas da Globo, com traços rodrigueanos, influências nietzschenianas, releitura de Bukowsky. Fernando Pessoa e Clarice Lispector, Augusto dos Anjos, parecem que falavam para si quando escreveram aquelas tais ou quais frases, não é mesmo? Tudo é possível no universo da vida humana. E ainda ass

Será? Até que se prove o contrário.

Há um filme chamado " Como se fosse a primeira vez ", cujos detalhes acerca de atores, personagens, diretor, etc., não darei aqui pois não interessam ao tema, pra isso o hiperlink, que trata de uma moçoila que sofre de amnésia anterógrada ( Korsakoff ), impedindo a memorização de curto prazo imediatamente após o trauma. Simplificando: a cada adormecer, ela "apaga" os acontecimentos recentes entre o trauma e aquele momento, como se estivesse "congelada" naquele último instante anterior ao, no caso, acidente. No filme, o mocinho quer a mocinha e, a máxima romântica explorada pelo enredo, tem que conquistá-la novamente toda manhã, again and again. Não nos interessa aqui o processo, mas sim o resultado: como é um filme, e todos viveram felizes para sempre, eles casam-se, têm uma linda filhinha e passeiam de barco pelos mares árticos. Para que isso seja possível, ele levanta-se antes dela todas as manhãs e deixa ao seu lado da cama uma fita de vídeo, com todas

Homo. Hetero. Pan: Sexualidade.

Dias atrás me peguei numa discussão ferrenha com meus colegas mais próximos do hospital onde trabalho. Na mais absoluta falta do que fazer que nos tem presenteado estes dias confusos de indecisão - outro assunto - as idas e vindas ao cafezinho na rua proliferam, oferecendo-nos espaço para os mais variados assuntos, para  descobrir afinidades, estreitar laços, mas também, é claro, para conhecer as divergências. Numa dessas ocasiões, cercada por quatro colegas do sexo masculino - e vejam bem, pontuo isto aqui porque a questão é exatamente gênero e sexualidade - em meio às abobrinhas e berinjelas que disparavam animadamente, entra-se no assunto "se meu filho fosse gay". Estando eu no meio, como boa catalisadora de polêmicas que sou, não foi de se estranhar que o assunto tenha logo tomados proporções de debate e espalhado-se pelo resto da equipe, ocupando todo o resto da tarde, transformando-se mesmo numa enquete. Partindo da famosa afirmação sobre a "beleza da homossexual

Peripatética.

(É tudo tão hipotético que nem mesmo sei se aconteceu.) Sabe aquelas palavras que você não sabe o que significam, mas cria um significado próprio para elas? Pois assim é comigo e com a peripatética. Peri, é prefixo de "ao redor", na periferia, na borda, excluso do centro. Patética é aquilo que já sabemos: é patético. Pois então, peripatética(o) seria aquilo - na minha definição, claro - que beira o patético, de tão ridículo. Algumas coisas na vida são assim: nos fazem sentir peripatéticas. Quando falamos e não somos ouvidas, quando tentamos dizer, e não somos entendidas, quando expomos a verdade e não somos consideradas. Podem me perguntar: "porque você está usando o feminino plural?" E se a resposta não for óbvia aos olhos de quem lê, já respondo, porque sou mulher, e porque garanto que não há amiga minha que não há de concordar com o que digo agora. Não, não meu sobrenome não é Pinkola Estés, nem corro com lobos, apesar de gostar muito desses bichinhos. Não est

Oração de São Francisco.

"Senhor, fazei com que eu procure mais consolar que ser consolado, compreender, que ser compreendido, amar que ser amado! Pois é dando que se.." Paremos por aí. Há várias considerações que se fazer acerca desta oração. Pra começo de conversa: um inconsolado consolar alguém? Como? Cheio de revolta no coração? Não vejo jeito de que um inconforme, incontinente, inquieto possa transmitir alento algum a quem precisar. Perdeu-se tudo, não há mais saída, sente-se no fundo do poço, e o camarada ao lado, sem ter sido consolado, nunca saberia dizer nada parecido com "para tudo há solução." Porque ele não sabe disso, nunca o disseram isso. Na verdade, quando ele mesmo esteve no fundo do poço, ninguém cantou para si: "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!" Já compreender mais que ser compreendido... bom, é o exercício da profissão. Noventa por cento - ou mais - do que dizemos aos pacientes, só vai ser compreendido daqui há meses... anos!, se é que algum di

Como escolher seu analista/psicólogo.

"Eu apenas queria um relacionamento honesto, maduro e com o mínimo de neurose possível. É pedir demais?" Resposta do psicólogo.... Lacaniano : "Desista. Você nunca corresponderá totalmente ao desejo do outro." Freudiano : "O que você que é casar com o seu pai. Estou certo?" Junguiano : "A coniunctio pelo hierogamos é uma imagem arquetípica da qual esse seu desejo é uma expressão mais que natural. É atávico!" Existencial-humanista : "E o que isso significa pra você exatamente agora, nesse momento?" Reichiano : "Eu pude notar exatamente isso, pela maneira como você cruza os dedos das mãos enquanto segura seu joelho esquerdo com elas." Gestalterapeuta : "Seja esta relação. Coloque-a em primeiro plano agora. Como você se sente?" Winnicotiano : "A relação suficientemente boa é aquela que te frustra quando deve." Transpessoal : "Este problema está para além de você ou do outro." Esqu

Tudo o que tenho por um pouco de paz de espírito, John!

Eu queria apenas ser, sem sabê-lo. Sem saber o como, quando e o porque de ser como quando e porque. Ser sem ciência, no máximo, uma leve intuição de por onde ir. Eu queria dizer, sem pensá-lo. Sem saber o porque do que digo nem adivinhar o porque da resposta que recebo. A inconsciência da ignorância do substrato de tudo. A consciência de si não é a ciência do subjacente. Posso saber de mim mesma, sem entender-me, nem a ti. Sei que sou, e basta. Não me interessa o que move meus passos, interessa que ando. Queria andar sem me notar, e, caso batesse numa parede, a culpa seria dela por estar ali, e não minha. O que sei de mim, é minha responsabilidade. Gostaria de lavar as minhas mãos. E que o resultado das coisas fosse apenas uma prerrogativa do suprapessoal, sem vínculo algum com minhas escolhas. E que as palavras fluíssem de meus dedos incessantemente. Penso, logo sou e sofro. Sofro a reflexão de mim mesma sobre o que sou. Se flutuasse na plenitude paradisíaca do não saber, o mundo

Noite de sábado.

Regina acordou com o despertador do relógio tocando, muito suavemente, bem baixinho. Na verdade já havia acordado quarenta minutos antes, Alberto, que dormia ao seu lado no tapete da sala, falava animadamente ao telefone. Ele voltara a dormir. Ela mais ou menos, e agora acordava de verdade, porque estava na hora. Depois de passarem o sábado inteiro juntos, bebendo e comendo e falando, de dormirem sob o mesmo teto, teriam ainda um domingo muito agitado. Regina já via ante seus olhos as porções de pastel e as garrafas de cerveja que teriam, logo logo, por café da manhã. Espreguiçou-se com um sorriso, cheia de pelos do tapete no vestido, virou-se na direção do amigo. Alberto estava sentado de costas para ela, no chão com as pernas cruzadas, imóvel. "Bom dia!", ela disse feliz. Ele não a respondeu. Chamou-o, com a intimidade dos amigos, de mal educado e sentou-se, chegando perto de onde estava. Alberto, imóvel, tinha a expressão atordoada, os lábios brancos e os olhos vidrados.

No strings attached.

Tinha chegado em casa bêbada. Uma vaga lembrança que pedira comida no boteco da esquina, logo confirmada pelo interfone. Era mais uma noite em vão. Mais um sono sem sonhos que se lembrasse e que pudessem lhe dar uma dica. Se fiava muito no que tinham a dizer, os sonhos. Dormiu no tapete da sala. Quem nunca teve essa urgência de dormir tão desenfreada de não conseguir chegar na cama? Morava sozinha a tempo suficiente para parecer desde sempre. E a cada dia crescia a impressão de que assim moraria eternamente. Morava com o Gato. Mas o Gato sabia morar de um jeito que era como morar absolutamente sozinha muitas vezes. Não é de todo ruim, amava sua casa. Não que parecesse, pois pouco a frequentava, mas sim, amava. Tinha obrigações para com ela que não conseguia cumprir, mas a casa nunca reclamara. Da mesma forma o Gato. Amor incondicional. Sozinha, tinha tempo suficiente para olhar ao seu redor e tentar entender o que era sua vida. O que acontecia e qual era sua responsabilidade nisso, s

Bilingual

It was morning. I had cried the whole night. Conclusions came to my head like butterflies, but they were all inconclusive. Things I've never thought about, things that have shadowed my mind my whole life. I just didn't want to see them. Nor hear. Certo, eu quis te fazer especial, mas você quis ser apenas mais um. Te tornarei então mais um entre tantos. Um entre tantos que eu quis pra mim, um entre tantos que eu desejei. Um entre tantos que eu daria um dente de trás para ter. It's a strange, nice, weird feeling. It was like I had faced all the answers altoghether, and yet, unanswered it remains. Like dropping a heavy burdon, like drinking a heavy bourbon. Happiness, although mislead through dangerous pathways. É como insistir em drogas de efeitos breves e efêmeros. É como um vício que te incita ao primeiro trago, mas logo apaga-se na metade. E sempre é um primeiro trago, porque não vinga. Não perde a novidade porque não tem efeito cumulativo. I'll pretend to both of

Ecrire

É preciso escrever. Eu preciso escrever. Mas o que? Como? É tão banal, um ato tão idiota como escrever. Escrever, oras. De algum modo incipiente, subreptício invade esta necessidade de escrever. É só forma, sem conteúdo. Mentira. É conteúdo sem forma. Não consigo dar forma às milhões de possibilidades do que desejo escrever. Eu não desejo escrever. Eu preciso escrever. Penso em tantas coisas. Frases vêm-me à mente, e vão-se, sem amarras. Sem começo, sem fim.  Dêem-me um tema, eu preciso de um tema! Mas qual o que, é o que de pior podem me fazer. Meu pensamento gosta de correr solto, sem contornos ou limites. Não há maior penúria para si do que fazê-lo dedicar-se a um só assunto e dele discorrer com introdução, contexto e conclusão. Não. Tudo diz de tudo, todas as coisas se relacionam numa eterna associação livre de pensamentos que ... branco, branco. Não era nada disso. Não era isso que eu queria escrever. Quanta baboseira. Eu simplesmente não sei o que escrever. Mas não consigo parar.

Bolero de Ravel.

 Faz parte da cultura paraibana. Sim, o Bolero de Ravel. No município de Cabedelo, bairro do Jacaré, às margens do rio Sanhoá, todos os dias, há 3.385 dias (81, pela memória de F.K.), Jurandy do Sax  toca o Bolero de Ravel, pontualmente desde o momento em que o sol começa a se por até este desaparecer totalmente atrás da mata na outra margem do largo rio. Jurandy sai de um pier sobre a água num dos restaurantes que ficam à margem do Sanhoá, entra numa canoa, e, de pé, navega pelo rio tocando o Bolero de Ravel em seu sax. Por do Sol no Jacaré, imperdível. Comi bode. Duas vezes. E peixe e camarão e feijoada e amendoim cozido na casca e castanha e devo estar um 5 quilos mais feliz. A balança daqui é atrasada no peso de verão, pr'as visitas ficarem à vontade e comerem mais um cadinho. É importante notar também o cachorro quente: é de carne moída. Até tinha umas salsichas - acho que em nossa homenagem - mas o negócio mesmo é pão a bolonhesa. Imagino que não seja tão interessante ficar

Diálogos 4: Por que você foi embora?

- HEIN? - O que? - Por que? - Já te falei... - Não entendi. - Mas fui claro... - Depois de tudo... - Nunca dei a entender... - Mas as coisas que falamos? - Eu não quis dizer... - Falso. - Ãhn? - Canalha. - Como? - Homem! - O que você quer dizer com isso? - Oras, isso mesmo! Canalhasalafrárioenganadorfilhadaputagostoso! - Mas querido!!! - Querido uma ova! - Nunca mais vou lá! - Onde? - Lá, onde você me esnoba na frente dos seus amigos! - Mas querido... - Querido é o caralho! Chegacabou! - Mas eu quero... - Não me importa, Rubem, não me importa. Ou assume, ou está tudo acabado. Não tolero ver você com mais mulher alguma! - André.... - Não me importa! - Eu te... - Não quero saber, é mentira! Enquanto não for só pra mim, é mentira! - Nunca serei... - Então nunca terás... - Posso mudar! - Mudar? - Sim, mudar. - Duvido. Prove! - Amanhã mudarei... amanhã...

Diálogos 3: O que você foi fazer?

- Mas doutor, não gostei! - Como assim? - Do que o senhor fez! - Mas você está curada! - Exatamente! - Não gostou de estar curada? - Não. Quero a recidiva da minha patologia! - Não entendo! - Com todos os sintomas de volta! - Mas porque? Não se sente melhor assim? - Defina "melhor"? - Ora, foram-se as dores, a febre, a tensão muscular. Seus olhos não lacrimejam mais, sua garganta desobstruiu, está respirando melhor! Aquela sensação de aperto no peito e nó no estômago também passou e seu coração não corre mais risco de enfarte. Não tens mais dor de cabeça. Os pés não estão inchados e suas pernas se movimentam livremente agora. Sua saúde está restaurada, minha jovem! - Mas e o buraco? - Que buraco? - O buraco que fica agora! O que eu faço sem sentir isso tudo? Não sinto mais meus pés, minha cabeça, meu estômago, meu coração, não sinto mais nada! Como sei que ainda os tenho se não os sinto? - Mas eu te garanto, estão aí e funcionando plenamente. - Sua garantia nã

Diálogos 2: Ela não te ama.

- Mas eu gosto dela. - Como pode? - Não sei, assim... - Mas ela é completamente louca! - Eu sei. - Descompensada! - Eu sei. - Esquizofrênica! Bipolar! Borderline! - Eu sei. - E ainda assim?... - Eu a amo. - O que ela te fez? - Nada. - Nada? - E tudo. - Tudo o que? - Mandinga. - Na boca do sapo? - É uma abstração... - É uma aberração, eu diria. - Você não a conhece. - E você? - Sei o suficiente. - Ela fuma? - Fuma. - Bebe? - Bebe. - Deve ter filhos... - Um aquário... - Muitos filhos?! - Não, peixes. - Não entendo... - Os peixes? - Não, você! Um rapazinho tão inteligente... - Qual a relação? - Devia saber onde se mete! - Mas eu sei! - Sabe? Então porque? - Eu a amo. - Porque a ama? - Deve ser carne. - Se é assim, porque não diz? - O que? - A ela! - Que a amo? Nunca! - Porque não? - E destruir tudo o que temos? Nem pensar... - Mas não têm nada.... - Por isso... Teríamos menos ainda. - Ela é louca. - Concordo. - Então? - Me casaria! - Na

Diálogos 1: Morte em vida.

- Foi? - Fui? - Já? - Já. - E já voltou? - Já! - Porque? - Não deu certo. - Mas como? - Não sei direito. - O que aconteceu? - Muita coisa. - Muita coisa o que? - Ah, não dá pra contar... Pra falar teria que ir do início... - Faz isso então, oras! - Não posso. - Porque? - Tem muita coisa que não lembro. - Faz um esforço. - Não consigo. - Porque? - Dói. - Dói? - Dói. - Foi tão ruim assim? - Não. - Então? - Foi maravilhoso. - Então porque não lembra? - Por que não deu certo. Fiz questão de esquecer. - Mas se você foi lá e tudo! O que pode ter dado errado? - Não sei, algo no meio do caminho, talvez... - Você diz, a estrada? - Não, não é isso. - Então? - A hora em que cheguei. - A hora em que chegou? Que tem? - Era tarde. - Da noite? - Não, demais. Era tarde demais. - E o que... - Ele já estava morto. Não houve o que pudesse... - Morto?! Mas me parecia tão... - Vivo, eu sei. É apenas impressão. Mortinho. - Quem diria... - Eu não. - Nem eu. Se ao

Literatura erótica.

É no banho que vejo as marcas que você me deixou. Lembro bem desta noite, por trás dos pensamentos embaçados vodkanianos. Seu quarto já me é familiar, sei exatamente onde ficam as suas coisas, a sua cama. Me pede para tirar a roupa, em tom imperativo. Minhas coxas ficam marcadas pelo elástico da calcinha que você arrebenta com força. Pega meus cabelos como rédeas e encontra em mim a posição que deseja. Não bata tão forte, assim você me machuca. Você é quem manda. Sua língua passeia pela minha boca, enroca-se na minha, seus lábios grossos devorando os meus e me deixando o rosto todo úmido, eu me entrego a estes beijos como se hipnotizada, como se desacordada, mergindo inteira com sua boca. Passeia suas mãos por entre minhas pernas, não é delicado, nem tampouco bruto. Sinto os dedos ásperos arranharem ao entrar, sinto meu corpo por dentro. Sou totalmente vulnerável agora. Beija-me entre as coxas minha coluna se contorce em resposta, aperto os olhos para segurar o momento por mais temp

O fim está próximo.

Começamos já errado. Estamos começando pelo fim. Não há fim. Não importa o que façamos. Não há muito o que posso fazer. É insuportável estar aqui, porque não há para onde fugir. É inexorável que a situação te persiga até os confins, onde quer que eu esteja. Porque são minhas as atitudes. Você não vê porque enquanto você falava, eu escondia tudo de você. Você não vê, porque falava demais pra perceber o que acontecia comigo. Você não vê, porque aconteciam muitas coisas ao seu redor, enquanto eu era mais do mesmo. Sempre novidade. Olha, eu não quero ser grossa, mas, começamos já errado. Eu não sei dizer não. E quem sabe. Tudo é perto demais, seus passos são vigiados, não há distanciamento possível que proteja minha integridade. Enquanto isso não me escolhe, eu escolho errar. Me perdoe se eu estiver errada. Mas eu já descobri tudo, não adianta mais se enganar. Minha alma quer me sabotar a qualquer preço. Eu sei o que quero. E sei o que quero quando o que eu quero não pode ser. E isso é pu

Paixão, doença e morte.

Doença, seu sinônimo: patologia. Patologia, etimologicamente do grego, logos , como em todas as logias, com esse sentido adaptado para 'estudo' e pathos , paixão. A Grécia Antiga lidava com as paixões do corpo , termo que foi utilizado até muito recentemente na Idade Média por todos aqueles que ocuparam o lugar de médicos, les medicins . Paixões do corpo, que eram responsáveis tanto pelos aspectos físicos quanto pelo comportamento das pessoas, épocas em que as pessoas eram uma coisa só. E a "cura" não consistia em extinguir, exterminar, eliminar, esconder, se livrar de coisas que pertencem inerentemente ao homem. A cura era o equilíbrio. Em muitos lugares e épocas foi assim, e buscava-se tal bem estar através de diversos artifícios: intelectuais, desporto, ascetismo, exercícios de mente, corpo e espírito, o TAO. Sounds good to me. A medicina atual difere um bocado disso. Cura é sinônimo de não morrer, não doer, não sofrer (sabendo que corro o risco de apanhar por es